quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Passageiro

Sou apenas o passageiro.
O passageiro de um automóvel que terá um fim.
Eu sou apenas o seu passageiro.
Não sou o meu carro, sou o passageiro.
Um Passageiro sem fim.
Ele terá um fim.
Eu estarei para sempre
Mas eu sou o passageiro
E ele o meu carro.
No fim dele,
Eu estarei lá
E o meu fim não haverá
Porque eu sou o passageiro
E ele o meu carro
Sou passageiro no meu carro
E amanhã não estarei cá
Porque em tudo serei passageiro
Mas para sempre ficarei cá

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Muro

Nos dias em que comemoramos a queda do muro de Berlim, “o muro da vergonha”, com o contentamento de quem venceu um obstáculo, de quem ganhou a paz e colocou de lado a vitória da guerra, sabemos afirmar a importância de derrubar fronteiras físicas e culturais para que com o respeito pela diferença saibamos acrescentar valor num contributo global para problemas planetários. Só que, do reforço do interesse e das virtudes da labuta comum com vista à prossecução de objectivos globais até à colocação em prática da defesa acérrima e pragmática desses conceitos ainda tão teóricos a diferença é cabal, provocante e assustadora!
Na mesma Europa em que comemoramos a queda de um muro vinte anos passados, assistimos desinteressados e resignados a pessoas que de passaporte na mão todos os dias tentam cruzar o muro que separa Nicósia (Chipre), entre gregos e turcos! E nós aqui tão perto!
Há alguns séculos atrás ultrapassámos o desafio da construção de pontes para superar rios como barreira naturais, e ainda usámos estes percursos de água para estarmos mais perto dos povos vizinhos. Hoje a barreira entre Israel e a Palestina parece a muitos a melhor solução para travar um conflito. A barreira México-EUA agoniza pressões e conflitos. A construção de um muro de mais de 3000km, com 25 metros de altura entre Índia e Bangladesh, enfatiza e coloca à fome milhões de pessoas, destrói relações comerciais e o sustento de famílias inteiras! Separa pessoas que independente da cultura ou nacionalidade construíram relações de amizade.
Platão escreveu por Sócrates! “Não sou grego nem ateniense, mas um cidadão do mundo!” Paulo escreveu para Éfeso “Vocês já não são estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos”. Quem luta por ideais, crenças e valores não mata para viver, entrega-se à vida e à morte e tenta sobreviver!
Razões para comemorar? Não vão gostar de ouvir a resposta! Perguntemos. O que é que aprendemos com a construção, a vivência e a queda do muro da vergonha? Não quero ser demasiado pessimista! Nada!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Casamento

A perenidade associada ao casamento é uma herança cristã transposta tão fielmente para a nossa lei que me choca tão só pensar na fragilidade que lhe querem associar pela facilitação que atribuem ao processo de divórcio. Mas mais chocante ainda, é constatar que quem tão acerrimamente contesta a crença cristã se apega a um conceito bíblico de casamento para o legalizar entre homossexuais.
Defendo-vos quando me dizem que existe, indubitavelmente, uma discriminação clara na lei portuguesa no que diz respeito ao casamento, não vos contrario se me acrescentam que os heterossexuais são protegidos por essa figura legal biblicamente herdada. Sim, é verdade! Não custa dizê-lo.
A discriminação positiva aplicada no casamento heterossexual com base no princípio económico que assegura o apoio social e financeiro e estimula a reprodução, visando a sustentabilidade geracional revela discernimento por parte do legislador.
A discriminação positiva aplicada no casamento heterossexual que sustenta a estabilidade social e promove o bem-estar civil assente no cariz familiar e na fidelidade como matriz societária europeia traduz uma herança histórica a que apelamos com apego recordando aquilo a que designamos "bons costumes".
A liberdade individual deve ser defendida pelo estado democrático assente em direitos, liberdades e garantias. E a liberdade de união entre pessoas de qualquer sexo, está salvaguardada pela sua não proibição, mas isso não significa promovê-la ou incentivá-la atribuindo-lhe benefícios!
Que liberdade estará implícita em legalizar o casamento entre homossexuais? Será isso defender liberdade e direitos iguais? O que dirão amanhã três pessoas que se pretendam casar? Ou quatro? Que o Estado as discrimina por não poderem utilizar a liberdade na sua plenitude? Os estudantes que saiam de casa para ir para a universidade devem casar-se no primeiro dia que partilham a casa e no último divorciarem-se para usufruir de privilégios fiscais e de assistência? Será que neste casamento se pretende constituir família? Não são três palavras que se querem mudar. É todo um direito da família assente no facto de se pretender constituir família!
"Casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das disposições deste Código." Artº1577 Cód. Civil.
Será que posso perguntar... se, se retira " de sexo diferente" porque não também tirar o "duas"? É absurdo!
Finalmente, porquê usurpar a palavra casamento da bíblia para usá-la de modo tão oposto? União de facto, ou outra designação que sirva os interesses, ou os privilégios que querem que sejam concedidos a alguns não será mais adequado?